sábado, 23 de janeiro de 2016

Um Pouco De Quem Quer A Karen

"Chuva, agora?" Imagino o teu entusiasmo nos tais dias de chuva que hoje mais me mostram a curva que fez a parábola da nossa relação onde apenas me posso culpar por tal situação.
Hoje não são os anjos a chorar sou eu que choro no silêncio do meu falar quando apenas minha mente te pensa e o meu corpo te deseja.
Hoje sou eu quem se perde entre cobertores que não mais me amparam do frio que deixo entrar, pois na verdade nunca foram pilhas de cobertores que alguma vez me cobriram, mas o teu corpo nu que condensava o meu, em pura presença da física onde a fricção dos nossos corpos entre cobertores acendia a chama que só apagava as 5h da manhã.
Hoje as minhas manhãs já não são tão alegres quanto foram quando a ti eu tinha para beijar pela manhã ou até mesmo teu corpo amar daquele jeito rápido mas prazeroso pois para o trabalho eu não me podia atrasar.
Hoje me atraso porque passo 15 minutos do banho a fantasiar a tua presença para as minhas costas esfregar, e outros 15 minutos fora do banho a me culpar pelo acabar de uma relação de invejar...
Hoje, ahh o hoje agora me soa estranho porque pareço estar perdido no ontem que destruí com as minhas próprias mãos, mas é bem feito pra mim... Quem sabe assim aprendo a lição.
Depois de ver um pouco de ti, eis aqui um muito de mim e um pouco de quem quer de volta a Karen.

Escrito Por:
Ruben Da Silva

Um Pouco Da Karen

"Chuva, agora?" Pensei eu...
Fechei o livro e abri as janelas do quarto, apaguei a luz e me enrolei nas cobertas, enquanto o meu olfato mal se continha de felicidade por causa do aroma inebriante de terra molhada, proporcionado pela tempestade.
Podia jurar que são os anjos a chorar porque se quebrou o nosso laço, que milhares de vezes me trouxe dores no peito, mas posto na balança, maiores são as alegrias desse nós, que vivem num pretérito perfeito, concebendo um futuro desfeito.

Vi aí um nós padecendo, mas eis aqui um pouco de mim, Eis aqui a Karen.


Karen K

Eu Quero!

E mesmo sem querer eu sorri para ti, quando as palavras que saiam da tua boca me deixaram rouca, quase muda ao sentir o teu corpo a se aproximar ao meu, daquela forma absurda!
Espera aí, não foi isso que eu programei, não era assim que as coisas deviam estar a correr... Mas agora pouco importa porque eu já saboreei o pecado que vivia na tua língua ardente; já tenho o veneno deslizando meu corpo quente. Se é impulso, emoção ou instinto, eu não sei. Só sei que eu quero esse calor das tuas veias nas minhas paredes mais íntimas, quero me dar à embriaguez do teu ser, no imperdoável desejo do meu querer...
Sim eu quero! Quero escalar montanhas de prazer, desvendar tudo que há em ti, tudo que me deres para beber; quero estar na frente desse combate onde nossas almas fazem guerra, sentir todo e qualquer embate, como se fosse tremor de terra.
Quero me deixar levar até onde a imaginação pecaminosa me carrega; até onde vive o fogo que a tua excitação alberga.
Sim, eu quero! As tuas mãos cobrindo o meu corpo descoberto, e sentir que não estás de passagem nesse caminho que há muito, eu já havia aberto...

Quando Voltas?

Eu daria tudo e mais qualquer coisa para continuar a te chamar de paradeiro; para fazer desaparecer o sal pluvial que se apoderou dos meus olhos; para te ver passar pela porta do quarto com a toalha enrolada na cintura e perguntar onde eu escondi o teu creme para barbear.
Eu me daria, como sempre me dei e me doei para ti, para nós, pela pessoa que eu sou ao pé de ti, pelo futuro que sonhei, imaginei e tive fé que fosse ser realidade quando nos vivemos sem medo em cada instante não premeditado da nossa felicidade amadora.
Quando é que voltas? Quando é que eu te terei ao meu lado para ver o sol dizer até amanhã e a lua sorrindo com um: olá?
Eu me sinto esgotada com essa rotina um pouco inanimada, por causa da demora do teu regresso ao meu endereço ou então daquele bilhete de bom dia na minha mesa de trabalho, dizendo que a tua ida foi só mais um atalho da vida para chegarmos até a felicidade desmedida.

Karen K

Caro Amigo

Caro amigo,

Vou dispensar a introdução, porque tu bem sabes que eu me dôo na essência da objectividade e falando em achar, eu só quis deixar bem claro que muitas vezes achei até o que não perdi e por causa dessas e outras, é que estamos assim...
Veja bem, meu caro, achar que cansa me ver te procurando só quando a vida me desperta ou quando sinto falta daquele teu abraço que aperta, é um facto! Eu nunca ultrapassei a linha que claramente sempre esteve desenhada entre nós, apesar de muitas vezes ter pensado, imaginado, ouso até dizer, "sonhado" um nós bem sublinhado por um sentimento que não fosse a amizade, nem simplesmente a cumplicidade de irmãos de mães diferentes.
Deixa-me te perguntar, achas que sou assim tão cega ou burra que nunca percebi o que ficava nas entrelinhas? Achas que não me sentia mal por muitas vezes desejar mais do que o teu abraço, mais do que o teu conforto de irmão, e não desejei te chamar namorado?
Sabes quantas foram as vezes que tive de falar durante uma hora ao telefone sobre um alguém que só sabia me maltratar?
Sempre julguei que não me quisesses o suficiente porque várias foram as vezes que deixei pairar no ar, a vontade de deixar a zona desconfortável da amizade que nos prendia no mesmo lugar...
Hoje, posso notar que na verdade o medo de tentar nos obrigou a nos calar e talvez a ignorar as falas silenciosas, um do outro. Posso ver que o suposto milagre que os dois tanto esperamos aconteceu. Na verdade sempre esteve aí, a gente é que não percebeu.
Mas agora, com tudo esclarecido, diz-me uma coisa amigo, serias capaz de namorar comigo?
Serias capaz de virar as costas aos meus podres do passado e  focar apenas na vontade de te ter ao meu lado? Terias coragem de desfilar de mãos dadas pelas ruas da cidade e mostrar que nasceu o amor dessa nossa amizade? Diz-me se algum dia já pensaste nas consequências de estarmos comprometidos; se aguentarias lidar com as más bocas, ou com outros amigos?
Será que não iria te fazer confusão, saber que eu sei como te ter na mão?
Sabes, moço, tu sempre foste a minha pretensão amorosa, embora silenciosa, sempre te desejei gritante... Mas entre ter um amigo para sempre e uma paixão momentânea, eu escolhi te amar calada e fazer sempre parte da tua jornada.

Seja feliz,

- A Amiga.

Ser Amigo

Hoje, olhando para dentro, fiz a velha questão, de ser ou não ser, no campo amistoso.
Afinal sou ou não sou um amigo? O que é a amizade?
É que depois de tantas decepções com pessoas, as quais eu considerei "amigas," me vi obrigado a pensar naquilo que faz de mim um amigo.
Já fui o tipo de pessoa que fez de tudo pelo amigos; já levei porrada por causa da cumplicidade; já fiz papel de estúpido; já carreguei culpas que não eram minhas, ignorei desculpas mesquinhas, fiz favores atrevidos, e tudo que quis era sentir que todo esse sentimento era recíproco.
Nunca pedi que me dessem presentes caros, ou me dessem banho depois de uma noite de bebedeira. Só me irritava muitas vezes com o facto de ser sempre eu a dar o braço a torcer e a correr atrás das pessoas porque achava que amizade deve ser uma coisa eterna.
Com o tempo percebi que as coisas não são bem assim... Tudo que é forçado, dói! Desde sapatos até relacionamentos. A amizade não está alheia à essa teoria.
Durante muito tempo defendi que era necessário manter as pessoas em minha vida. Eu precisava olhar um dia para os meus amigos e ver que em todo o tempo eles não me abandonaram, não me deixaram, não largaram a minha mão... O que eu não sabia é que a vida é emergente e as pessoas são diferentes.
Existem amigos descartáveis, que estarão connosco hoje e depois nunca mais os veremos, só estão numa certa circunstância da nossa vida, outros cumprem uma escala, só aparecem em algumas fases (sejam elas boas ou más) e outros, que são presentes, independentemente dos temporais.
Mas hoje a minha questão olha para uma direção: a aceitação. As vezes nos afastamos de amigos por causa de maus comportamentos, por causa de defeitos, de manias, de anseios e por aí fora.
Quando consideramos alguém nosso amigo, será que não estamos a dizer que aceitamos a pessoa com todas as suas crises e imperfeições?
Eu cheguei a conclusão que nós não aceitamos os amigos como eles são, nós convergimos nas qualidades mas quando chega a hora dos defeitos, pura e simplesmente divergimos. Isso para dizer que nós abraçamos aquilo que toleramos.
Sendo que, se um amigo meu é traquino e eu tolero traquinice, então este será mesmo meu amigo, com poucos riscos de choques. Ao passo que, se um amigo meu é  impaciente e eu não aturo impaciência, não poderei manter a amizade. Porque nós somos seres tão egoístas, que achamos que os outros têm que nos aceitar, tal como somos e não nos julgar pelo nosso jeito de ser. Ainda que digamos que não obrigamos ninguém a ficar, o ser humano sente essa necessidade... Então eu me pergunto, porquê não fazemos esforço para aceitar os outros? Porquê que achamos que somos a última bolacha do pacote e não nos doamos à um sentimento tão sincero?
O que nos torna amigos? Serão os favores? As coisas em comum? Os sonhos? Ou será o facto de aceitarmos o outro como um ser imperfeito e que apesar dos defeitos, serve para apoiar a cabeça nos nossos ombros e nos oferecer seu peito?

Resposta Ao Suposto Amor Murmurado

Caro Irónico, há muito que desejava ler ou talvez te ouvir me chamar de amor, embora continue achando imprudente, porque agora vem do teu lado do oceano, e não adianta dizer que isso deve-se à distância porque mesmo quando te tive perto de mim, não abriste
mão de ser distante.
Não sei se chamaria de amor mas com certeza é um sentimento muito parecido a este, que sustentou as minhas esperanças de um possível "nós" que aos poucos foram se tornando pejorativas, no meu mais magoado ponto de vista.
Tantas vezes gritei por ti, com os meus olhos, atitudes e ousaria até dizer, com a minha alma; só para ver se despertavas e atendias a minha chamada. Inúmeras foram as vezes que me doei, te levando para passear nas profundezas das minhas tristezas e nas mais ofegantes alegrias, fui me entregando de forma doseada aos sussurros descuidados das nossas conversas que se adjectivavam "amigas" mas que lá bem no fundo sabíamos que era só o medo de sofrer a nos impedir de viver uma paixão que infelizmente começou a se tornar tortura.
Hoje, te lendo no sentido mais literário possível, pude perceber que afinal você sempre me percebeu, porque até os meus pensamentos mais sarcásticos vagueiam pela palma da tua mão e são tragos à clareza só com uma luz do teu olhar.
Sempre te disse que palavras não costumam me impressionar e indubitavelmente o teu vocabulário extenso apresentado na carta, não foi a excepção. Enquanto pude, falei! Quando achei que já não adiantava me declarar com as formas mais criativas possíveis, pura e simplesmente  me calei. Não por orgulho ou porque surgiu um outro amigo em minha vida, mas porque o nó da tua ausência emocional me impedia de buscar mais meios de ter a alma partida.
Enfim, hoje só quis te deixar saber que agora pouco importa a vontade de voltar atrás, ainda que fossemos uma mistura homogénea, eu continuaria com a mesma resposta na ponta da língua, porque por mais que eu tenha desejado ter você só para mim, a inconstância do teu ser me fez parar de insistir na vontade de nos ter. E depois de tanto tempo de desespero, eu não podia imaginar que nesses acasos desprotegidos da tua memória, tu te lembrarias da nossa história e de coração aberto me desses o gostinho de te dizer que não podias estar mais certo.

Melhores cumprimentos de quem não te quer mais,
- Fulana.

Sofrimento Retardado

Perdida nas penumbras do meu isolamento por teu livre arbítrio, inconscientemente inalei o oxigênio que a terra ainda me oferecia, como se universo estivesse a me dar mais uma oportunidade para ser feliz, mas eu... Eu não me sinto capaz de continuar uma vida sem a tua vida nela, eu não me julgo suficiente para arcar com as despesas de uma rotina sem sentir uma conexão profunda com a tua alma. Cada vez que eu respiro parece ser o meu último suspiro, parece desfalecer cada pedaço meu que se desdobra com vontade de saborear teu mel; com vontade de ser farto por uma imensidão de nós bem amarrados, nós nas cordas sem nódoas, sem máculas, só a pureza da tua voz dizendo que ainda não chegamos à foz.  Que é possível rescrever o curso da nossa história, reinventar um final que não precisa ser feliz, só precisa de ser contigo, porque a tua presença retarda qualquer sofrimento.

Embebida Em Ti

Hoje fui até a estação de autocarros, senti que o meu espírito estava pronto para desmanchar e deixar alguns nós serem desfeitos, para esvaziar minha alma mas ao invés de esquecer, aconteceu exactamente o contrário, estava ali, com o meu pensamento sendo meu próprio adversário e estiquei-me para ver se alcançava a fita que a realidade deixara para me agarrar, porém a imaginação embebida em ti ganhou de mim e bagunçou os arranjos nos canteiros do meu mais íntimo jardim...

E ''se''?

Já engoli demasiados talvez nessa vida, acho que já chega! A sério, chega de morrer hoje ao deixar o viver para amanhã, estou farta! Temos uma mania que ultrapassa até a procrastinação e chega ao mais imperceptível pecado de deixar tudo que nos alegra; que nos deslumbra; que nos faz se sentir bem com o nosso íntimo, para depois... Quando são coisas que nos fazem mal, nós agarramos e guardamos como se fossem tesouros.
Abraçamos o rancor, a culpa, a inveja, o orgulho, hoje, agora; quanto mais rápido melhor. Não largamos, não conseguimos nos desprender do negativismo mas quando chega hora de vivermos o lado bom da vida, enchemos o nosso baú interior de "se."
E se deixássemos de guardar o "se" e fossemos viver as nossas vidas da forma mais urgente e alegre possível?

Aida Celeste